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Escotismo e Diversidade contra a Homofobia


No ano de 2016 os Escoteiros do Brasil trabalharam como tema anual as “Diversidades que nos Unem”, esse momento permitiu com que todos os associados percebessem a importância da inclusão, nas suas mais variadas formas, e de como ainda há muitos obstáculos que diferentes setores da sociedade precisam ultrapassar cotidianamente nas suas vidas e, de que forma, o escotismo está inserido na comunidade e também faz parte desse processo.

Inspirados por esse debate, e reconhecendo a importância de ações efetivas para inclusão e diversidade, os Escoteiros do Brasil Região do Rio Grande do Sul implementaram, desde 2016, dentro da área de Métodos Educativos, a Equipe Regional de Diversidades. A Equipe de Diversidades é responsável por tratar de políticas e projetos que tratam de Inclusão Racial, Imigrantes, LGBT, Igualdade de Gênero, e demais temas de representatividade que são consideradas como necessários o debate, dentro e fora do Movimento Escoteiro.

Hoje, 17 de maio, é um dia importante para tratar de um dos temas de trabalho da Equipe de Diversidades, o Dia Internacional de Combate a Homofobia. Os Escoteiros do Brasil, que em 2015 divulgaram seu Posicionamento Institucional sobre a Homoafetividade, reforçam seu papel como movimento educacional e inclusivo, aberto a todos. Em março desse ano, na realização do Congresso Regional Escoteiro em Três Coroas, dentre as oficinas realizadas, duas delas destacaram-se por tratar desse tema, a Oficina sobre “Identidade, gênero e sexualidade no Movimento Escoteiro”, mediada pela Equipe Regional de Diversidades, e a Conversa Temática dos Mensageiros da Paz sobre Gênero e Sexualidade. Além, também, do painel sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável que tratou também sobre temas de diversidades. Os três eventos contaram com a participação do Escoteiro, Professor e Psicólogo Carlos Temperini, estudioso sobre LGBTs.

As conversas sobre Gênero e Sexualidade iniciaram na Vigília Pioneira que tratou sobre as discriminações que as pessoas sofrem por serem diferentes. Os relatos pessoais trouxeram experiências para o debate entre os jovens. Além de permitir que assuntos muitas vezes considerados tabus viessem a ser debatidos abertamente entre os participantes. A Oficina sobre Gênero e Sexualidade contou com a participação expressiva de quase 1/4 dos participantes do Congresso, aproximadamente 150 pessoas. Demonstrando a importância do debate sobre esse tema nos Grupos Escoteiros. Segundo Temperini “Existe uma demanda grande de orientação, ainda temos espaços importantes para conquistar, passos a serem dados, porque as pessoas ainda não sabem lidar com isso, como falar sobre isso, o que fazerem em situações que envolvam a sexualidade e acho que ficou claro essa demanda. Entendo que há uma demanda do jovem para que isso seja aceito, tolerado ou respeitado, mas entendo que esse processo evolutivo já começou. Demos alguns passos importantes, isso não significa que não temos ainda passos a seguir.”


Mas então, como tratar desses temas com os jovens no Grupo Escoteiro? Carlos explica que cada etapa precisa ser pensada de modo particular, do lobinho ao pioneiro. “Na alcateia, por exemplo, vamos tratar falando que o ponto principal de uma relação é o amor, o afeto, que é o que nos orienta, e que é no futuro que essa criança vai saber o que ela realmente gosta. A gente não vai falar sobre sexualidade com profundidade, porque essa não é uma etapa que se espera que a gente entre com questões de sexualidade. Quando falamos de escoteiros e seniores podemos avançar na questão, o que não dá é para negar a realidade. Muitas vezes opta-se por colocar panos quentes ou abafar as questões tabus como a sexualidade, mas a gente precisa falar sobre isso. Para isso a gente precisa estudar porque requer uma compreensão inclusive do adulto.”

O escotismo representa a sociedade, a sexualidade é prova disso, afinal temos as diversas expressões de sexualidade dentro do Movimento Escoteiro. Isso já existe e já acontece, porém, é apenas o início de um debate mais amplo sobre esse tema. “Se eu trato um casal heterossexual diferente de um homoafetivo eu gero a desigualdade, não é um tema fácil. O que venho percebendo é que existe um embate muito grande dos jovens com as pessoas que fazem parte de outras gerações, ambos estão pedindo espaço, todo mundo pedindo para ser escutado, só que quando a gente quer impor o nosso pensamento, a nossa visão de mundo para o outro, vem o conflito, o que dificulta o equilibro de expressão e compressão dos temas”, considera Carlos.

Ampliando o debate sobre as Diversidades, o Painel sobre Desenvolvimento Sustentável suscitou também outros temas que são da realidade do Movimento Escoteiro como inclusão racial e social. “Onde estão os negros dentro do Movimento Escoteiro? Onde estão os pobres dentro do Movimento Escoteiro? Se a gente está discutindo as Diversidades que nos Unem, eu fico pensando nas outras diversidades. O que estamos fazendo para ter maior inclusão? Porque não estamos conseguindo levar isso para as outras minorias? Eu deixaria essa reflexão, como multiplicar o Movimento Escoteiro?”, diz Temperini.

O Dia de Combate a Homofobia é marcado no dia 17 de maio pois foi em 1990 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade de sua Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). Esta vitória foi comemorada mundialmente, tornando-se um marco internacional de combate a homofobia e símbolo de luta pela diversidade sexual e combate ao preconceito. Por mais que essas definições tenham mais de dez anos, infelizmente continuamos com dados tristes e alarmantes de mortes e agressões de natureza homofóbica. Para Temperini, o modo de reagir das pessoas às diversidades presentes hoje na sociedade deve ser parte de uma reflexão pessoal de cada indivíduo. “Olhe para você primeiro e questione o porque das coisas te incomodarem, porque eu reajo dessa forma, porque sou tão embativo, porque sou intolerante e rígido com essa questão? Olhe para você. Esse é um caminho para olhar para a gente, porque se o outro tem algo que nos incomoda isso é uma questão nossa, não é uma questão do outro. Temos que olhar para a gente.”

As Coordenadoras das Equipes, Rebeca Pizzi (Diversidades) e Jéssica Stelmach (Mensageiros da Paz), consideram que este é um momento importante para falar sobre os temas de diversidades e o associado deve envolver nos processos de discussão e contribuir com os trabalhos das equipes. “Como já tem muito tabu nas questões LGBT, esclarecer sobre o tema derruba muitos pré-conceitos que existem sobre isso. Instigar essa discussão a todos os associados demonstra que é uma demanda latente e as pessoas querem falar sobre isso”, considera Rebeca. “Dentro da Unidade Escoteira Local existe a necessidade de tratar esses assuntos e, muitas vezes, as pessoas não sabem como falar sobre esse tipo de assunto. Por isso iniciamos essa conversa, tirar o estigma de que isso é algo difícil e complicado”, disse Jéssica.

A Equipe Regional dos Mensageiros da Paz elaborou oito Fichas de Atividades que tratam sobre Diversidades e podem ser trabalhadas com os quatro ramos. Três delas tratam sobre as questões de Gênero e Sexualidade e são sugestões para que os voluntários possam incluir esse tema na programação das seções. A entrevista completa com Carlos Temperini está disponibilizada no youtube dos EscoteirosRS Dúvidas e sugestões sobre o tema podem ser encaminhadas à Equipe Regional de Diversidades pelo email diversidades@escoteirosrs.org.br.


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